sábado, 31 de agosto de 2013

Bruxelas

       Cheguei à estação Bruxelles-Midi e deparei-me com um grande número de mendigos a vaguear dentro e fora da estação. Aliás, confrontei-me com esta realidade ainda nem tinha chegado a essa grandiosa cidade. Em Lille, onde aterrei, também na estação se ouvia uma voz a anunciar "PROIBIDA A MENDICIDADE DENTRO DA ESTAÇÃO", a mesma voz que anunciava a que horas e em que terminal partia o meu comboio para Bruxelas. Enquanto esperava, fui lá fora para o meu marido fumar um cigarro. Foi logo abordado por uma rapariga de aspecto deprimente e com um gato por uma trela, não fosse ele fugir... queria um cigarro e vender droga, pelo menos foi o que percebi. A voz anunciava a partida do meu tgv e em  menos de uma hora chegava ao meu destino: Bruxelas.
      


Engraçado observar a grande disparidade na população. A estação estava situada quase no centro da cidade. Saí pela porta principal e deparei-me com um jardim muito bonito com grandes árvores e esplanadas repletas de executivos engravatados com os seus iphones, ipads e coisa e tal. Nos bancos do jardim, mesmo em frente aos cafés, dormitavam alguns mendigos. Sentei-me numa dessas esplanadas e bebi um café. Veio um tabuleiro prateado, trabalhado, com as famosas speculoos (bolachas crocantes típicas da bélgica e holanda que acompanham sempre o café), e os pacotinhos de leite para juntar ao café. 

       
Mesmo perto da estação, e surpreendentemente por cima de avenidas de 2 e 3 vias de automóveis, viam-se braços e rodas gigantescas de carrosseis da feira popular. Entrei pela feira repleta de barraquinhas por uma avenida a subir, sem fim à vista. De um lado vendiam-se batatas fritas com os mais variados molhos, caracois, caracoletas, burriés e mexilhões de toda a maneira e feitio, em esplanadas dos cafés residentes, que de belgas tinham pouco ou nada, a julgar pelas bandeiras brasileiras, argentinas e espanholas que exibíam. Olhando para o outro lado, amontoavam-se carrosseis, casas de rifas e barracas de grofes e churros. Curioso era  observar os protagonistas desta feira, atropelavam-se pela avenida que se tornava pequena para tanta gente. Também eles  pertenciam às mais variadas nacionalidades e muitos de raça negra, cujas crianças e mulheres ostentavam vestidos alegres e muito vistosos, tal como os seus penteados dignos de espectáculo.
       O dia terminou no centro histórico, Grand Place, uma praça magnífica rodeada de edifícios lindíssimos trabalhados e dourados. A vivacidade e cor das pessoas, tornava este sítio ainda mais deslumbrante.
       O jantar, no restaurante Chez Leon, foi, é claro, de mexilhões, à provençal, com vinho branco, com caril, todos deliciosos acompanhados das batatas fritas belgas, gordas e compridas. Surpreendeu-me a presença de um gato, que mais parecia um cão de tão grande que era, a caminho da casa-de-banho. Só depois percebi com o esclarecimento do empregado, que também o gato ali trabalhava, devido à presença assídua de ratos por aquelas bandas!




     

 Bruxelas é uma cidade multi-cultural e por isso não faltam eventos e museus para visitar. O Palácio Real, pertinho do museu Magritte e do museu dos instrumentos musicais, foi uma das escolhas. De entrada gratuita, vale a pena uma visita não só pelas salas enormes a perder de vista e os seus espelhos e candeeiros de cristal, como também pela exposição de ciência situada numa sala decorada no tecto e num candeeiro com milhões de asas de um escaravelho verde fluorescente.

Visualmente é surpreendente, mas não posso deixar de pensar na quantidade de bichos mortos para criar esta forma de arte.


     









     O museu dos instrumentos musicais, instalado num prédio belíssimo de arte nova, com o nome Old England, possui uma vasta colecção de instrumentos musicais (mais de 8000), a sua evolução ao longo da história e também os diversos instrumentos e melodias de muitos países.

       Atravessando a estrada, e porque a fome já apertava, deparei-me com comida de rua de todo o mundo, num formato de take away, apesar de se improvisarem fontes e bancos de jardim como mesas e cadeiras de restaurante. Desde tailandesa, a africana, passando pela italiana até soul, a diversidade de comida era muita. A minha escolha recaiu num crepe gigante de tomate, mozzarela e rúcula com molho pesto.





       A tarde foi preenchida quase por completo no museu Magritte, onde está exposta a sua obra (1898 a 1967).
   


       Ainda consegui ir ao Atomium, um monumento construído para a expo 58. Devido à sua dimensão imponente, os turistas distribuem-se desde longe a tirar fotos a "segurá-lo" com as mãos, numa avenida quase tão grande como o edifício que surge no seu topo. No total, a sua altura atinge os 103 metros e pode ser visitado pelo elevador espectacular com o tecto aberto. Este edifício é  formado por esferas de ferro com 18 metros de diâmetro, que estão ligadas por tubos, com escadas rolantes luminosas. As exposições nas esferas são da história da sua construção e também com espectáculos poderosos de luz e som.  





       A estadia em Bruxelas ainda se prolongou por mais uns dias para viver mais um pouco a cidade. A noite é intensa no centro histórico com os bares repletos de gente a beber as mil e uma variedades de cerveja. Também não fui excepção e sentei-me numa esplanada a provar uma tulipa, bem frutada e saborosa, recomendada pela empregada do café. Aquele ambiente fez-me recordar os tempos académicos de Coimbra, ao ver tanta gente com valentes carraspanas, a deambular pelas ruas estreitas desta zona.
     

Ainda visitei o museu das Ciências naturais, com um grande número de esqueletos de dinossauros, um piso só de mineralogia e um outro com uma exposição de biodiversidade. Muito interessante, principalmente para as crianças, pelos jogos interactivos que contem.
        Esta viagem por Bruxelas terminou com a ida ao Parlamentarium e à cidade da Comissão Europeia. Como fui a um domingo, esta parte estava deserta e as ruas e edifícios monumentais pareciam até abandonados. De longe a longe via-se um turista ou outro. No parlamento, a visita é gratuita e com tecnologia de ponta, tablet com auricular na língua da união europeia que se quiser. Funcionários por todo o lado a tirar dúvidas e a orientar as pessoas neste passeio pela história da União europeia. Muito interessante, mas questiono-me da necessidade de tanta ostentação na tecnologia utilizada, apenas para turista ver.




Nunca imaginei esta cidade com tanto turismo misturado com uma vivência enérgica de muitos profissionais engravatados. As ruas com grande animação de pessoas e murais desenhados que lhe dão imensa cor. As lojas cheias de charme, vão desde os bombons às gravatas. É uma cidade mágica!